sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Atentado da Pólvora

É triste admitir Rainha, mas é necessário: fui usado por Vossa Majestade. Vitima dos traumas que outros lhe impuseram e alvo de suas vinganças pessoais contra os mesmos. Você não percebeu que eu era outra pessoa, outra carta. Eles e eu somos todos cartas de um baralho de costas azuis, mas temos diferenças. Naipes e valores fazem de um Rei de Espadas diferente de um Valete de Paus e um Rei de Ouros.

Passando por cima dos meus pedidos e clamores, Vossa majestade direcionou e sentenciou a mim toda a raiva e medo do seu Valete de Paus e me condenou a todas as frustrações lhe impostas pela majestade egoísta do seu Rei de Ouros. Não houve por mim, em momento algum, a consideração de ser visto como alguém pessoal, único e novo em seu baralho.

No todo, Vossa Majestade não se deu a oportunidade do recomeço. Não fez de mim a oportunidade de ter tudo novo e se prendeu a continuar e "consertar" em mim todo os erros de outros no passado. Fui vitima de desconfiança, distancia e defensivas por crimes que não cometi e que meu caráter não permitiria cometê-los.

O que lhe propus foi: Vossa Majestade ser Rainha e eu Rei, cada um de seu naipe, cada qual em seu reino, apenas no mesmo jogo e sempre que possível na mesma mão. Não quis jamais juntar nossos reinos e imperar sobre o seu, aparentemente mais rico e prospero que o meu. Não me interessava jogos nem batalhas onde fossemos adversários. Nunca me interessou expor qualquer força que tivesse sobre você. Nunca quis lhe vencer pela força porque nunca quis uma vitoria só minha no que se refere a Vossa Majestade.

Sinto por não ter como acatadas todas as oportunidades de assim fazer. Sinto pelas vezes que fui impedido de fazer mais brilhante nossos raiar do sol depois do meio dia. Sinto pelas noites de prazer sagrado que Vossa Majestade não me permitiu proporcionar.

Por outro lado fui também o intermédio para um autoconhecimento seu; físico e sentimental. Certos prazeres e sentidos que Vossa Majestade confirma que passou a conhecer através de mim. Certas intimidades que somente em mim você achou espaço e lugar para repousá-las. Nisso me sinto especial e encantado.

Agradeço pelos momentos, juras e brilhos de olhares. Agradeço por tê-la em meus braços, por afagar seus cabelos, acordar ao seu lado. Pelos sorrisos ao abrir a porta de um modo todo especial, pelos abraços e beijos que me fizeram sentir os sabores do paraíso.

E nessa gratidão Rainha, vejo em Vossa Majestade todo o potencial para fazer diferente tudo que fez. A força para deixar o passado no seu lugar e viver o presente projetando o futuro e me dá a oportunidade de ser para Vossa Majestade apenas o que sou e não o que outros foram.

Ouro e outros coisas Rainha, são frívolas e efêmeras se comparadas ao que temos. Nossas verdadeiras riquezas são invejadas pelas pessoas mais afortunadas e não a nada material que possa paga-las. Nunca poderei pagar pela ternura em seus abraços, assim como Vossa Majestade nunca poderá me pagar pela paixão em meus beijos. Somos devedores um do outro e me sinto muito feliz pela divida que acumulei com Vossa Majestade e tenho o desejo de aumentá-la. Estou disposto a permitir que Vossa Majestade também aumente a sua.

Adiante

Rei de Espadas

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