O Rei de Espadas é um ser que amou e por falta de experiência no amor (quem a tem na verdade?) amou errado. Não sei se isso é possível, mas ele fez. Por tal coisa ele perdeu sua Rainha de Copas e sofreu por isso. Agora, milhões de séculos depois, já recuperado (segundo ele) usou-me para descrever à Rainha como se sente e como superou sua perda.
Diz Bione: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas vivas, mortas-vivas ou extraviadas será mera paranóia de quem achou.
Hoje você me deixou, Rainha. Hoje você veio e me deixou novamente. Fiquei aqui, deixado. Fiquei assim deixado, pedindo para você voltar e desejando que você sumisse de vez.
Então resolvi ficar. Fiquei sozinho com as lagrimas que não verti e deixado. Triste, amargurado, com o coração em pedaços e deixado. Implorei para que dessa vez fosse para sempre e clamei para que fosse uma ida breve.
Amanha quando o sol se por estarei em outros braços, Rainha, mas com o coração deixado. Nesse momento serei eu, Rainha, que deixarei você. Não lembrarei os momentos maravilhosos que tive com você e esquecerei todos os tristes.
Hoje você me deixou novamente, Rainha. Hoje eu lamentarei por isso. Amanhã eu te deixo.
Você me mentiu todas as promessas que fez! Todas as promessas!TODAS! E eu engoli todas. Traguei como a fumaça incomoda de cigarro barato. Esperando um prazer que sabia que viria nunca. Nunca Rainha. NUNCA!
Agora estão elas aqui, as promessas, escorrendo pelo meu rosto. Secam mas não cessão. Que inferno, elas não cessão! Esqueci a maioria mas elas ainda doem. Doem tanto. TANTO! Quando vão parar? Essa merda não para? Você não pode ser sincera nem na sua ultima promessa? Você disse que eu não me preocupasse porque passava e porque não passa? Porque essa merda não passa? Porque você não passa? Porque Rainha, você não passa?
Eu sei que errei. Sei quanto errei. Amarguei tanto cada erro. Já não é castigo demais ter te perdido? Eu tento tanto Rainha, me entregar a outra pessoa, mas não consigo. Chega um momento que me canso de enganar alguém que ta tentando me fazer bem e desisto. Mentira! Nunca fui tão bonzinho assim, sou egoísta. Eu me canso é da pessoa. Me canso de olhar para o lado e ver que não é você que esta lá. Me canso de dormir sem teu cheiro e não ser acordado por teu beijo.
Então eu dou qualquer desculpa vagabunda e volto a remoer tudo que você não sente mais por mim. Como o idiota e fraco que sou. Desmerecedor da coroa sobre minha cabeça e até mesmo do chão nos meus pés.
Essa foi a ultima promessa que você me fez Rainha. Que eu não me preocupasse pois ia passar. Porque não passa?
Clemência Rainha! Suplico por sua clemência! Passe na minha vida! Eu só quero que você passe!
Estive longe Rainha. Muito longe mesmo. Não mais longe do que já fui no passado, mas era longe. Fui buscar sapiência para futuro e encontrar vestígios do passado. Um passado mais próximo que o nosso.
Foi bom, não foi ótimo. Conhecer novos lugares, novas teorias, novas pessoas, novos terminais de integração, novos mares. Mas mesmo no meio de tudo isso eu teimo em lembrar de você Rainha.
Tentei pensar em qualquer outra coisa. Juro que me esforcei, mas foi inútil. Quando vi você era novamente dona dos meus pensamentos. Mesmo tão longe novamente eles eram seus.
Você novamente me vencendo. Antes eu diria que era o nosso amor me vencendo, só que vamos ele não existe mais. Então sobra pra você.
Não quero lembrar de você Rainha. Não desse jeito. Muitas vezes lembro de uma forma ate aceitável, mas vez ou outra acontece uma dessas. Lembro e parece que você num vai sair mais da lembrança.
Tenho ao menos a capacidade de saber que você não é mais nada alem disso. Uma lembrança. Memórias e pensamentos são o que lhe restaram Rainha. Meus sentimentos agora têm outros nomes. Não são mais seus.
A cada dia as coisas vão ficando diferentes, Rainha. Vão ficando melhores no meu ponto de vista. O seu me interessa cada vez menos. Você se torna uma lembrança cada vez mais distante a cada passo que dou. Estou andando cada vez mais rápido, é bom que saiba.
Vi uma foto sua por esses dias. Como sempre meu coração lhe reconheceu primeiro que eu. Avisou-me aos saltos. Bem certo que ele saltou bem menos de que costumava fazer. Bem menos mesmo. Olhei a foto, olhei novamente para meus olhos ter certeza e achei que você não estava tão bonita quanto eu te achava antes. Claro que continuava muito bonita, mas não tanto quanto antes.
Pensei ser despeito meu então pedi opiniões alheias. Vi que não estava tão errado. Possivelmente a foto lhe desfavoreceu e a moça do seu lado apagou um tanto do seu brilho Possivelmente eu não veja mais tanto brilho em você. Possivelmente, possivelmente...
Nem passei muito tempo pensando em você depois de ver sua foto. Olhei, vi e esqueci. Só vim lembrar novamente quando estava no templo sagrado da filosofia, o ônibus. Apenas lembrei de ter visto a foto e quanto o choque de ter te visto foi tão pequeno desta vez. Nada mais daqueles melodramas de abandono, saudade...
É Rainha, o tempo esta passando. Não mais para traz e sim para frente dessa vez. Tenho medo de onde isso vai dar. Já estava me acostumando com a situação e finalmente tudo muda. Você não mais me causa tanta causa, tenho uma nova Rainha, é bem capaz de amanha nos vermos por ai e simplesmente inclinarmos as cabeças e dizermos “Bom dia”. Pelos D’uses todos como tive medo que um dia esse dia chegasse, mas hoje até duvido se não quero que ele venha.
Mando novidades em breve, agora tenho que dar a minha nova Rainha os mimos que um dia você recebeu.
Ah Rainha, consegui novamente. Na verdade consegui bem mais do que esperava. Pensei tantas vezes em não ir, mas respirei fundo tomei coragem e fui. Pus uma roupa confortável, que minha mãe odeia, mas me faz ficar bem comigo mesmo. Coloquei uma muda de roupa na bolsa que me acompanha no dia-a-dia. Peguei um pouco de dinheiro. Nada de extravagâncias. Chegando à estação comprei uma revista, subi no ônibus e fui...
Para enganar meu medo puxei conversa com uma senhorita que sentou ao meu lado. Veio de longe em busca das mesmas coisas que eu, mas sua viagem ia mais alem que a minha. Tentei dormir ao atravessar as serras estrangeiras, mas não consegui (aquela velha tensão de sempre). Então me pus a ler a revista que comprei. Deu certo quase não senti medo e mais importante não penei em você.
Cheguei lá e tudo estava frio, muito frio. Ao chegar à casa de meus anfitriões recebi calor suficiente para tomar ate mesmo um banho frio. Fui muito bem recebido, mas não foi desse calor que falo Rainha. Recebi algo intenso quando olhei uns olhos brilhantes que estavam lá. Apenas estavam lá sabe, daquele modo, como um ponto que transforma um retrato numa fotografia. Perdi-me naquele olhar, mas fingi está bem achado. Você sabe que finjo bem essas coisas Rainha, você sabe.
Conversei, ri, brinquei e até me mostrei um pouco, na tentativa de causar o mesmo efeito naqueles olhos. Retirei-me para me trocar com a sensação de trabalho bem feito. Saímos separados, mas na promessa de nos encontrarmos entre os demais. Depois de todos juntos arrumamos um meio de estarmos a sós e confirmamos o que desejávamos. De perdido nos olhos dela passei a ser um perdido em sua boca, em seus abraços. Depois de beijar lhe com carinho, ainda com os lábios colados, abrir os olhos e vê-la também me olhando se tornou um vicio naquela noite. Sempre adorei vícios!
Ela me fez companhia durante toda a noite e madrugada a dentro. Conhecemos-nos, descobrimos nossas semelhanças, nossas diferenças e tudo parecia ser um encaixe perfeito.
A manhã veio e eu parti. Antes de subir no ônibus novamente olhei para trás e tive a certeza de que ia voltar. Que atravessaria mil vezes as serras e meus medos para olhar naqueles olhos. Sentei-me próximo a janela e fiz questão de que sua cortina estivesse bem aberta, olhei cada segundo de minha travessia de volta e ela nunca me pareceu tão rápida.
Sai para encarar um medo e buscar efemeridades Rainha. Assim como César, Veni, vidi, vici. Venci meus medos e despojei as efemeridades por algo que promete ser bem mais sublime. Voltarei em breve e ela me espera.
Cresço a cada dia Rainha. Me supero e vou em frente. Sempre...